Cantinho Imperial

Oi gente! Na estreia do nosso Cantinho Imperial, eu vim falar sobre a Lia de Itamaracá, que estará, muito merecidamente, na centralidade do nosso carnaval de 2024.

Pernambucana e orgulho do Nordeste, aos poucos foi ganhando projeção nacional e internacional. Até se tornar oficialmente patrimônio vivo, imortalizando o seu trabalho.

Começou nas rodas de ciranda desde criança, e trabalhou como merendeira em escola pública. Particularmente sou apaixonado por essa fase em sua biografia, porque penso que a vocação para o trabalho com a criançada, na merenda ou na ciranda, é um dos fatores que a tornam a potência que é. Afinal, as crianças são a esperança realmente transformadora que sempre teremos.

O apelido Lia surgiu aos seus 20 e tantos anos de idade, quando Teca Calazans resolveu incorporar ao seu trabalho versos aprendidos com a cirandeira. Maria Madalena, agora Lia, estaria para sempre a brilhar, a partir daí. Em 1977 ela gravou o seu primeiro disco. E nesse trabalho, entitulado “A Rainha da Ciranda”, já deixava bem claro o lugar que ocupa, até hoje, nas cirandas mundo afora. Realeza justíssima para essa mulher que é pura potência, orgulho do Brasil e dos nossos saberes e fazeres.

Foto Cantinho imperial

Porém passaram-se mais alguns anos até que o mundo todo conhecesse essa Rainha, que hoje é enredo do primeiro império do samba.  O ponto de partida para isso foi sua participação no “Abril pro Rock” em 1998, seguido pelo trabalho gravado em 2000, “Eu sou Lia”, que foi distribuído também na França. Sucesso retumbante, o que levou Lia à Europa para uma série de apresentações no ano seguinte.

E vocês acham que parou por aí Não! Ela também fez cinema, participando do curta-metragem “Recife Frio” e sendo protagonista de um outro curta, sobre o qual vou falar mais adiante. Também deu o ar de sua graça no grande filme “Bacurau”, super aclamado.

Essa mulher é tão grandiosa que acumula uma série de homenagens, que não só a premiam, mas também ajudam na preservação das cirandas, à medida que dão destaque ao conhecimento por trás desse trabalho magnífico. “Patrimônio Vivo de Pernambuco”, ganhadora da “Ordem do Mérito Cultural”, pelo Ministério da Cultura, “Doutora Honória Causa na Universidade Federal de Pernambuco”. E, como se não bastasse, foi eleita “Diva da Música Negra”, pelo New York Times. Muitos títulos super merecidos, apesar de que eu, particularmente, tenha um apreço todo especial pelo primeiro deles, o mais pretérito de todos, que é o de Rainha da Ciranda. Porque não conheço uma pessoa sequer que tenha tido contato pessoal com ela e que não se admire justamente com a forma como ela conduz a ciranda pro lugar mais afetivo dentro de cada um que a vê em seu ofício.

Ah, lembram que eu ia comentar sobre o seu segundo curta-metragem, onde teve protagonismo Pois bem! Trata-se do filme “Formiga Come do que Carrega”, do diretor Tide Gugliano. Título que traz em si mesmo uma grande verdade, e que a conecta a esse ecossistema do formigueiro onde estamos todos inseridos como crias do Morro da Formiga. Porque formiga come do que carrega, formiga não anda sozinha e formiga trabalha sem parar. Que é o que faremos a partir de agora para homenagear essa mulher fantástica, em seus 80 anos. Salve Lia de Itamaracá, salve o Império da Tijuca!

 

Autor Eduardo Maciel